Estilista da Black Tie dá dicas às noivas

O ponto alto de qualquer casamento é sempre o vestido da noiva. Em entrevista exclusiva, o estilista Sergio Augusto ou, simplesmente, Serginho, compartilha sua experiência em mais de quarenta anos de profissão. 

vestido

Serginho, como começou sua carreira de estilista?

Acho que desde criança sou estilista, porque me lembro que aos onze anos de idade criei o primeiro vestido para uma tia que morava conosco. Ela foi uma das que me deu maior força para começar como estilista em Belo Horizonte. Isso já faz muito tempo, pelos anos 60, quando a moda realmente marcava uma década. E eu me espelhei muito em Valentino e Yves Saint Laurent, que eram realmente os grandes papas da moda na época, e Givenchy, que foi o sucessor de Dior.

Passados alguns anos, fui trabalhar em lojas de tecidos. Naquela época, não existiam faculdades de moda: o estilista nascia estilista ou não. E fui me aprimorando nessas lojas de tecidos finos. Recebi um convite para vir a São Paulo e trabalhei muitos anos na Rua 25 de Março, que foi uma escola para mim. Não existiam ainda os shoppings, somente as lojas de tecidos dos libaneses, onde havia tecidos caríssimos. E como a grande maioria das modistas e costureiros comprava lá, eu tive a oportunidade de conhecer Dener, Clodovil, Ronaldo Ésper e vários outros costureiros que me ajudaram a aprimorar-me nesse campo de moda. Depois, fui trabalhar em alguns ateliês e hoje estou aqui na Black Tie.

Hoje em dia, me identifico muito com John Galliano, Christian Lacroix e alguns outros, como Vera Wang, mais jovens, da alta costura, para quem realmente tiro o chapéu.

Como surgiu este traje tão especial, o vestido de noiva?

O vestido de noiva realmente marcou uma época quando a Rainha Vitória (1819- 1901) da Inglaterra quis se casar de branco. A partir daquele momento, sem querer, lançou- se o vestido de noiva branco. Mas antigamente, as ninfas, as jovens puras na antiga Grécia, já se vestiam de branco para serem oferecidas aos deuses. Também a Igreja Católica, que confrontava um pouco com o paganismo, fazia com que as noivas católicas se vestissem de branco para se oferecerem ao Sacramento, a Deus.

A partir de então, a moda começou a marcar as décadas. Você poder ver que nos anos da Belle Époque, quem conhece a moda pela foto percebe a que década corresponde aquela noiva: 1900, 1920, 1940… A moda foi marcando décadas. Hoje em dia há uma vantagem: um leque tão grande permite que a noiva escolha seu próprio estilo. Não é mais como nos anos 40: se estava na moda um corte ou um adereço, todo mundo tinha de usar também, dentro de um estilo. Hoje, não. Cada noiva escolhe o seu estilo, dependendo do tipo de casamento, se é de grande porte, se é mais simples, se ela é mais clássica ou mais arrojada, se é exótica… Tudo isso contribui para que a noiva se sinta bem. Eu sempre digo que o vestido de noiva é uma segunda pele. Não adianta o estilista, a mãe e a avó falarem que está lindo… A noiva tem que se sentir bem.

Logicamente, nós, profissionais, podemos dar dicas para ajudá-la a escolher, porém sempre de acordo com sua personalidade. Uma capela pede um vestido que não tenha muita cauda ou véu muito longo, pois se a capela é pequena, nem pode haver muitas damas de honra. Numa matriz barroca, numa igreja muito ostensiva, a noiva não pode ir limpa demais, simples, sem véu, sem cauda, com o vestido justo, pois a igreja vai roubar todos os olhares dos convidados e a noiva vai passar quase desapercebida. Por outro lado, às vezes a noiva casa-se numa igreja ostensiva por tradição de família. Então, se ela é despojada e quer tudo despojado, deve usar um véu rico porque ela tirará o véu no bufê e ficará com o vestido despojado que condiz com sua personalidade. Eu sempre digo o seguinte: tudo é permitido desde que se tenha bom senso e equilíbrio.

E hoje, o vestido de noiva é moda ou tradição? Segue tendências?

O vestido de noiva logicamente é uma tradição. Como eu acabei de falar, cada noiva tem um estilo próprio. Porém, existe a tendência. Tendência é aquele decote que insiste em continuar e que fica bem para muitos manequins, muitas noivas, ou aquele corte de saia… Isso é uma tendência como, por exemplo, o “sereia” e o “tomara que caia”, muito forte e que persiste há alguns anos. Agora estão voltando os vestidos amplos, armados…

Eu sempre digo o seguinte: a noiva tem que tomar cuidado com o modismo, não com a tendência. O modismo vem e passa rapidamente; depois de alguns anos, vinte ou trinta anos, os filhos vão debochar da mãe dizendo “olha, usava isso, que coisa estranha!”. Ao contrário disso, a tendência é um estilo que permanece e eu sempre digo que meus ícones de moda estão sempre em evidência: são os mitos como Jacqueline Kennedy, Grace Kelly, Audrey Hepburn e algumas outras mulheres que não seguiram modismos, mas que retiraram da moda, daquela tendência, seu estilo próprio, permanecendo eternas, o que faz que seus vestidos sejam copiados até hoje.

Qual foi o seu maior desafio ou o pedido mais inusitado?

Houve muitos desafios durante todos estes quarenta e tantos anos em que trabalho com moda, mas um dos mais marcantes para mim foi uma noiva para a qual um certo costureiro não conseguiu fazer o vestido a tempo. Faltavam pouquíssimos dias e às vésperas do casamento a noiva estava desesperada. Ela sabia que eu era estilista, me procurou e eu fiz uma brulage no corpo dela, dentro do que ela queria, para que ela não ficasse frustrada. A brulage é um vestido improvisado com alfinetes ou alinhavado.

Ela se casou com um vestido todo “montado”. Eu disse “por favor, não se sente, fique de pé” e ainda “se for na igreja, quando for ajoelhar, peça ao padre para não ajoelhar porque algum detalhe pode arrebentar ou sair algum alfinete”. Correu tudo maravilhosamente bem, ela me mostrou as fotos, ninguém dizia que era um vestido improvisado. Quando chegou no bufê, ela se trocou, colocou um vestido de festa e, assim, eu a satisfiz, a deixei feliz, porque ela estava em prantos, desesperada.

O feeling do estilista, o sonho da noiva e o vestido. Como fazer com que tudo se encaixe?

Atualmente, meu trabalho na Black Tie é dar uma assessoria às clientes, inclusive dou um curso de etiqueta relacionado a noivas. Com esses quarenta e tantos anos de profissão, pude perceber certos detalhes que passam muito despercebidos, detalhes percebidos pela noiva apenas ao escolher as fotos ou ver o filme, como um brinco mal colocado, uma gravata torta… Porque todos que estão no altar fazem parte da elegância da noiva. Não adianta a noiva estar linda, ser uma lady se alguma pessoa do outro lado está desengonçada. Perde-se totalmente aquela beleza, a harmonia. E eu, então, presto essa assessoria.

A Black Tie, agora, não está mais confeccionando seus vestidos. Ela descobriu que é muito mais vantajoso e que os acabamentos são mais perfeitos trazendo-se algumas peças do exterior. Nós temos as coleções Yolan Cris, coleções estas que são sofisticadíssimas, à altura de nossas clientes, selecionadas e exigentes; Priscilla of Boston, com tecidos nobres aprimorando a sua modelagem e movimentos dos tecidos, e Disney com seus lançamentos inspirados nos contos da Disney.

É interessante que aquelas noivas bem moderninhas que querem uma coisa bem diferente, no fim, acabam virando todas princesas. Eu acho que, realmente, é aquela lembrança de quando eram pequenas que aflora neste momento de conto de fada. É um sonho e muitas clientes querem realmente esses vestidos da Disney.

A consultoria da Black Tie está muito preparada e, realmente, tem toda minha assessoria em alguns momentos mais livres: procuro orientá-las sobre como acompanhar uma cliente, principalmente em questão de sensibilidade e de etiqueta. Aí ela faz o seu trabalho, onde deve ter uma dose de psicologia para conhecer realmente a personalidade da cliente. A cliente chega querendo um estilo, mas, de repente, como nós temos um leque de opções muito amplo, a cliente escolhe algo completamente diferente daquilo que ela tinha imaginado, por se encantar com outros estilos de vestido que ela sequer tinha imaginado. Para isso, quem contribui muito é a consultoria.

Algumas clientes se sentem perdidas porque gostam de um vestido com um detalhe específico. Por exemplo: ela gostaria de um vestido de alças, mas gostou imensamente do vestido tomara que caia. Aí eu complemento o detalhe do vestido: uma alça diferenciada ou outros detalhes, que complementam sem tirar a personalidade do vestido. Outras se sentem perdidas em questão de maquiagem, cabelo, buquê, sapatos… Toda essa parte eu também ajudo a fazer a melhor escolha.

Gostaríamos que você desse algumas dicas às noivas que lerão esta entrevista…

Noiva, há algumas dicas que acho importantíssimas.

Não esqueça que, antes de escolher o vestido, é bom ver o lugar. Quando são igrejas que já têm a nave com uma determinada largura, é importante verificar com o decorador o tipo de decoração que será utilizada. Fale para ele “olha, eu vou ser acompanhada pelo meu pai e meu vestido é rodado, então, tome cuidado porque ao atravessar a nave, não quero que minha cauda fique presa num galho de decoração”. Já aconteceram muitos fatos desagradáveis em casamentos e, coitada, a noiva fica desesperada. Veja a largura do partner, que provavelmente será o pai, junto com a noiva já vestida com o dito vestido rodado e passe para o decorador dizendo “eu tenho que entrar com desenvoltura, não posso ficar presa ao braço do meu pai” porque é a noiva quem vai fazer o vestido, quem está vestindo é quem faz a roupa, não adianta ela ser linda e o vestido ser maravilhoso se ela não conseguir entrar com desenvoltura. Essa é uma das dicas.

Outra dica refere-se aos saiotes. Não esqueça que às vezes há saiotes que são cheios de babados, a saia tem um certo volume e, ao descer do carro, embola todo o saiote por dentro e, ao andar, percebe-se aquela parte de baixo vazia ou um volume estranho. Então, alguém, a cerimonialista, precisa puxar todos os babados para baixo para que o movimento da saia seja equilibrado.

Como eu já disse, tudo é permitido desde que haja equilíbrio e bom senso. Tome cuidado: se usar uma tiara muito ostensiva, ponha um brinco menor e não ponha nada no pescoço para que não haja tantos complementos e brilhos, o excesso pode tirar totalmente a beleza completa do visual, as atenções voltam-se para o plano superior e ninguém percebe o vestido.

Como eu disse antes, tome cuidado com movimentos de cauda e de véu. Se o local for curto, não ponha tanta cauda nem tanto véu. O véu pode ultrapassar uma cauda de 60 cm, não há problema nenhum, mas tome cuidado!

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